A atividade agrícola nacional destina para a colheita 80 milhões de hectares do território brasileiro e, destes, 77% são para culturas temporárias de cereais, leguminosas e oleaginosas. Dentro desse cenário, o herbicida atrazina é o quarto princípio ativo mais empregado no controle de plantas daninhas na agricultura brasileira. Devido a sua estrutura química ser composta por um anel triazínico substituído com cloro, etilamina e isopropilamina, mostra-se uma substância altamente recalcitrante para a degradação biológica no ambiente. A aplicação de fungos em processos de biorremediação de pesticidas vem sendo amplamente estudada, visto que são organismos facilmente adaptáveis e resistentes, e ainda apresentam a capacidade de produzir enzimas para metabolizar diversas substâncias. Neste contexto, o trabalho buscou avaliar se fungos isolados de sedimentos fluviais de área de intensa atividade agrícola apresentam capacidade de biodegradar o herbicida atrazina. Para isso, inicialmente selecionou-se os fungos capazes de produzir enzimas ligninolíticas utilizando a oxidação do guaiacol. Na sequência, os fungos positivos foram avaliados quanto a sua capacidade de tolerar diferentes concentrações do herbicida em experimento estático. Os mais tolerantes foram escolhidos para a realização do teste de biodegradação em meio liquido acrescido de 30 mg L-1 de atrazina durante 21 dias. Para estes fungos realizou-se a identificação morfológica e molecular. No experimento que degradou o herbicida foi determinada a atividade enzimática da lacase e da lignina peroxidase e avaliado o potencial fitotóxico do produto da degradação por bioensaios com sementes de rúcula. Após os experimentos de tolerância, observou-se que 5 linhagens fúngicas apresentaram capacidade de tolerar o herbicida nas concentrações de 30 a 200 mg L-1. Contudo, nos testes de biodegradação, apenas a linhagem F20 foi capaz de biodegradar 25% da atrazina, com a formação da molécula desetilatrazina, caracterizada pelas análises de FTIR e HPLC/MS. Na avaliação da atividade enzimática, os valores obtidos não foram expressivos, não sendo possível relacionar as enzimas com a biodegradação. No experimento de fitotoxicidade não houve redução de toxicidade após a biodegradação, isso porque a molécula desetilatrazina é muito similar a atrazina e o percentual obtido na biodegradação não foi capaz de biotransformar o herbicida em outros compostos. Apesar da constatação da efetiva capacidade de micodegradação do herbicida, a utilização da linhagem fúngica F20 para futuras aplicações biotecnológicas de biorremediação de solo ou água contaminados com a atrazina, demandam novos estudos visando a potencialização do seu percentual de biodegradação.
Dissertações