Estudos sobre a dinâmica sazonal do carbono nos ecossistemas aquáticos tropicais são importantes para se compreender as relações ecológicas e as alterações relacionadas aos impactos antrópicos. Na Bacia do Alto Paraguai há pouca informação sobre como se dá esta dinâmica nos rios formadores do Pantanal, como o rio Cuiabá – MT. O objetivo desta pesquisa foi quantificar as concentrações e as cargas de carbono orgânico total (COT) relacionando-as com o ciclo hidrológico. As amostras de água foram coletadas mensalmente, entre o período de agosto/2012 a dezembro/2013 e, posteriormente, entre setembro/2014 a abril/2015, em quatro pontos amostrais localizados nos municípios de Rosário Oeste (ponto de montante – RO), Várzea Grande (Passagem da Conceição – PC), Santo Antônio do Leverger (SA), e Poconé (Porto Cercado, a jusante – CER). Além disso, foi realizada uma única coleta em janeiro/2015, na região do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense (PARNA), onde foram amostrados dois pontos no rio Cuiabá (a montante – PJ e a jusante – SP da Baía do Burro) e outros dois em duas baías na área de inundação, adjacentes ao canal principal do rio, Baía do Burro (BB) e Baía do Morro (BM). Amostras compostas (margens e centro) foram coletadas a 60 cm de profundidade, preservadas com H3PO4 a pH ? 2,0 e mantidas sob refrigeração seguida de congelamento no laboratório. Os parâmetros básicos pH, temperatura, condutividade elétrica e oxigênio dissolvido foram mensurados in situ, através de sonda multiparamétrica portátil Hanna – Modelo HI 9828, devidamente calibrada. Para a quantificação da alcalinidade coletou-se amostras na parte central do rio, sendo analisada sua titulação com HCl 0,0501 mol L-1 em titulador automático. Os valores de pH, temperatura e alcalinidade foram utilizados para o cálculo indireto do gás carbônio livre (CO2L). A análise do COT foi realizada em aparelho TOC AURORA 1030W, com amostrador automático, em triplicata, utilizando-se água ultra pura obtida em Purificador GEHAKA. Para o cálculo da carga de carbono orgânico total utilizou-se os dados de vazões medidas no momento da amostragem em cada ponto, em m³ s-1 (Qy), para os anos de 2014 a 2015 e para os anos de 2012 a 2013 utilizou-se as vazões disponíveis no Sistema Hidroweb (ANA), multiplicados pelos teores correspondentes de COT em mg L-1 (Cs), e determinando-se a carga em t dia-1 (Qss) pela seguinte expressão: Qss = 0,0864. Qy. Cs. Os dados obtidos foram separados por pontos de coleta e período hidrológico. Os resultados de concentração de COT variaram de 1,11 mg L-1 a 6,66 mg L-1, sendo que os maiores valores foram observados na fase de cheia. O mesmo padrão se deu para os resultados de cargas, destacando-se o ponto de SA, com 670,1 t dia-1, a jusante da região metropolitana, e o ponto a montante – RO com 422,0 t dia-1. Os resultados de COT foram avaliados estatisticamente, verificando-se que apresentam distribuição normal, o que permitiu o uso da análise de variância (ANOVA) para comparar as médias dos pontos ao longo do rio Cuiabá no período de estiagem e cheia. Os dados de concentração por período hidrológico não mostraram diferenças estatisticamente significativas para ambos, estiagem e cheia, porém, para cargas os resultados foram estatisticamente diferentes na estiagem. Utilizou-se também o Teste t para comparação das médias de concentração e carga, entre os períodos hidrológicos, em cada ponto de coleta, onde RO e PC apresentaram diferenças significativas entre os períodos hidrológicos. Os maiores resultados de concentração (3,17 mg L-1 – RO; 3,58 mg L-1 – PC) e carga de COT (149,96 t dia-1 – RO; 216,46 t dia-1 – PC), em ambos os pontos, foram encontrados na cheia. Nos pontos SA e CER, as concentrações médias e as cargas de COT, entre as fases de estiagem e cheia, foram também estatisticamente diferentes na fase de cheia e, assim como nos pontos anteriores, os maiores valores de COT, concentrações (4,01 mg L-1 – SA; 4,01 mg L-1 – CER) e carga (341,96 t dia-1 – SA; 172,28 t dia-1 – CER) foram observados na cheia em função do aumento do escoamento superficial e das vazões. Os dados obtidos no Parque Nacional (PARNA) foram ilustrativos deste trecho de alta inundação do Pantanal do rio Cuiabá. Os valores observados neste trecho inferior foram mais elevados do que nos trechos alto e médio. PJ, SP e BM apresentaram, respectivamente, 7,76 mg L-1; 7,01 mg L-1, e 8,53 mg L-1. Já BB, ambiente altamente heterotrófico, apresentou o valor mais elevado determinado neste estudo, com 19,84 mg L-1. Nos pontos SA e CER, considerados como pontos de planície, bem como nos pontos do trecho inferior do rio Cuiabá, o fenômeno da decoada tem influência nos teores de COT como resultado dos processos de decomposição da matéria orgânica submersa na fase de enchente. As concentrações de COT nos pontos SA e BB indicam que esta variável é mais um indicativo do fenômeno. De forma inédita, avaliou-se o quanto a hidrodinâmica influencia na dinâmica de um nutriente pouco estudado na região, o carbono, como carbono orgânico total, permitindo assim estimar o quanto o rio Cuiabá contribui com aporte deste nutriente para a planície pantaneira.
Dissertações